terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

El aeropuerto más moderno de latinoamerica.

Há poucos anos passados tive a oportunidade de participar de uma cerimônia de inauguração em um país de nossa América Latina, que prometia marcar o início das operações de um novo e moderno aeroporto internacional.
Informações de boca em boca transmitiam dados sobre os valores envolvidos na grande obra realizada, que remontavam cifras da ordem de centenas de milhões de dólares. O “novo aeroporto”, diziam, estava há pouco tempo com uma administração privada, cumprindo promessa do governo de virar a página da aviação civil do país.
Ao chegar ao local da cerimônia, confesso, fiquei impressionado com a beleza arquitetônica do terminal de passageiros. Os detalhes da estrutura metálica que se lançava ao ar com vigas belíssimas vencendo enormes vãos e elementos estruturais de distribuição das cargas nos diferentes pisos mereciam, como tributo à beleza, o dispêndio de longos minutos de observação.
Enquanto admirava a beleza da construção, eu era encaminhado por amplos corredores climatizados, cuidadosamente decorados com pinturas e esculturas de artistas locais, que levavam às salas de embarque internacional.
Ao chegar ao local onde estava montada a recepção, encontrei um dos diretores da empresa que administrava o aeroporto e, após agradecer-lhe a gentileza do convite, esbanjei elogios àquela bela obra. Meu sorridente anfitrião empolgou-se com o meu entusiasmo e agarrou-me pelo braço para apresentar-me outras áreas, explicando a função planejada para cada uma delas.
Ao chegar a um amplo ambiente com lateral envidraçada e visão externa, pude colocar meus olhos sobre quase toda a área de movimento de aeronaves e fiquei surpreso com a contrastante visão. A pintura de boa parte do pátio de aeronaves, da pista de taxi e da pista de pouso, até onde alcançava minha visão, estava totalmente desgastada, parecendo nem mesmo existir em vários pontos. Elevações do terreno em extensa área paralela e próxima às pistas bloqueavam a visão de pelo menos um terço da pista de pouso. Hangares e diversas pequenas construções em alvenaria, postes de linhas de energia elétrica e outras estruturas coalhavam áreas que supostamente deveriam estar desimpedidas. Pelas margens do pátio de estacionamento de aeronaves trafegavam inúmeros veículos que não pareciam operacionais. A pista de pouso era muito próxima ao pátio de estacionamento de aeronaves e aquela situação levou-me a questionar meu anfitrião sobre se havia algum planejamento de obras, também, para área de movimento. A resposta não poderia ser mais esclarecedora: ele disse que a empresa havia assumido a administração do terminal de passageiros e que pátios e pistas permaneciam sob a responsabilidade do governo, desconhecendo eventuais obras planejadas. Percebendo a súbita diminuição do meu entusiasmo, meu anfitrião tentou resgatar minha animação afirmando: “Pero, con la nueva terminal aérea tenemos el aeropuerto más moderno de latinoamerica”.
No dia seguinte, os principais periódicos locais estampavam a novidade, corroborando as palavras do meu anfitrião de que o país, agora, possuía um “nuevo” aeroporto internacional comparável aos melhores do mundo. Mais ainda, nas páginas internas havia entrevista com uma autoridade governamental que enaltecia os resultados alcançados com a privatização do aeroporto e que, com a inauguração do terminal, estava plenamente cumprida a exigência contratual de prover os passageiros que embarcavam e desembarcavam naquele país com um serviço de qualidade equivalente à oferecida nos melhores aeroportos do mundo.
Pois bem, tudo indicava que a iniciativa privada estava cumprindo com o papel que lhe foi atribuído. Mas, era evidente de que alguém não estava cumprindo o seu dever. Alguns dias depois pude constatar, “in loco”, que os problemas na área de movimento de aeronaves daquele aeroporto eram bem mais extensos e graves do que havia revelado minha visão.
Tudo isto me fez lembrar as aulas de história, algumas décadas atrás, quando o Prof. Farina definia história como “uma sucessão de fatos que se repetem ao longo do tempo”. Sendo assim, fico pensando cá com meus botões: qual será o aeroporto brasileiro que ganhará destaque como “El aeropuerto más moderno de latinoamerica”?